segunda-feira, 22 de março de 2004

Prometo que vou evitar a frase "a casa caiu" porque é a única coisa que tenho escrito, desde que comecei esse diário. Mas... A CASA CAIU!

O dia começou tenso, com muita preocupação porque, ontem a moça do trabalho me avisou que o chefe não tinha pedido pra diretoria a autorização pra me dar a cesta básica e que ficava chato dar só pra mim e não dar pro mirim porque o pai dele faz a contabilidade do escritório e ia perceber ( e ele e o  chefe são amigos de longa data). Fiquei super mal e estava muito nervosa porque a gente não sabia bem como ia comprar o arroz, sem ter grana. Cheguei no trabalho e mal olhei na cara da galera e me tranquei na sala do chefe pra chorar sem ninguém me ver daquele jeito. A moça entrou e veio me dando patadas, dizendo que eu estava muito nervosa por nada, que eu não podia maltratar ninguém porque ali era como uma família, blá, blá ,blá... Daí, apelei pra choradeira.

Comecei a chorar e a dizer que minha casa estava caindo, que meus pais estavam se separando e eu estava contando com aquela cesta porque a gente não tinha mais arroz e o dinheiro não tava dando pra quase nada...enfim, coloquei a situação pra ela e pra empregada e, claro, aproveitei e "pedi desculpas" se eu tinha ofendido alguém, mas os problemas que eu estava passando estavam atrapalhando toda a minha vida. Ela se sensibilizou e... me deu a cesta dela: ligou pro mototáxi e pediu pra ele entregar em casa e não me cobrou nada. Fiquei totalmente sem reação e sem cara, porque cheguei tão autoritária e dona da verdade e acabei tendo que me humilhar pra salvar a casa. Depois daquilo tudo, de toda aquela prova de amizade, tinha que terminar a cena. Chamei ela de lado e agradeci: abracei ela e chorei, agradecendo porque ninguém nunca tinha feito aquilo pra mim e eu só tinha a agradecer.

Mammy tinha ido entregar currículos e o mototáxi teve que entregar a cesta na casa da vizinha. Lógico que a vizinha ficou morrendo de inveja porque queria ter uma cesta igual, afinal, a situação financeira dela tá feia: o marido não consegue mais trocar cheques, tá devendo uns $7.000.00 pro banco e vai ter que vender uma das casas pra pagar as contas.

Até Mammy ligou pra moça pra agradecer a grande obra de caridade que ela fez pra gente. Pappy, ao contrário de toda a torcida do Flamengo, ficou horrorizado com o que eu fiz e, teve a cara de pau de falar pra mammy que eu deveria ter comprado o arroz com meu dinheiro e não devia ter pedido pra dar a cesta dela pra mim ( mesmo que ela tenha oferecido primeiro; eu apenas aceitei, ué?! O mundo é dos espertos!).

Rolou um pequeno barraco na hora do almoço porque Pappy queria que eu fizesse uma daquelas mega listas de despesa pra ele comprar com cheque dela e mammy, lógico, ficou super ofendida e bateu boca com ele.
Por livre e espontânea vontade dele, ele saiu de casa com uma camisa, uma cueca, a toalha de banho e a escova de dentes. A tarde no trabalho foi calma mas eu estava me sentindo meio mal por tudo o que aconteceu de manhã. Mammy me encontrou no caminho de volta pra casa e pappy encontrou a gente no meio do caminho. Ele estava com um carro que ia fazer serviço e ofereceu carona, que a gente não aceitou. Ele me entregou o buscopan que mammy tinha pedido pra ele entregar e puxou o carro.

Mammy ligou pra família dela e a situação lá não é das melhores: o pai dela está a dias sem ir no banheiro e chora e grita de cólica, mas os médicos de lá já disseram que não há o que fazer porque este é o início da falência dos órgãos, e o final desta doença é assim mesmo.

Ela chorou e queria que eu chamasse meu pai de volta mas o celular já estava na caixa postal. Só Deus sabe onde ele se enfiou porque, da última vez que eu falei com ele hoje, ele disse que não sabia onde ia dormir e que me ligava amanhã cedo. Espero que ele não esteja na casa daquela vaca.

A partir de amanhã, se toda essa situação aqui em casa se ajeitar com meu pai fora daqui e pagando uma pensão de $50,00 por semana pra gente, ou mesmo que ele volte ( fazer o quê?!), pretendo agir como uma profissional no trabalho, como fiz na última quinta quando fui toda produzida e fiquei no fundo fazendo todo o trabalho, sem tratar ninguém mal, mas sem abrir muitos detalhes da minha vida, antes que eu encha o saco de alguém e resolvam me despachar de lá. Tá amarrado no nome de Jesus! Fico por aqui.

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